2018 a 2020
Espaço Entre apresenta uma parte da série de imagens produzidas em infravermelho, através da união de fotografias de topos de protuberâncias surgidas como "pontas de ilhas" no meio da represa de Salesópolis. Tomadas em conjunto, primeiramente elas conformam uma verdadeira paisagem de arquipélago porque têm a mesma origem e estrutura geológica. De um processo de aglutinação, sobreposição e simples justaposição, passei a construir paulatinamente um corpo de imagens que me serviu de instrumento para investigar a relação entre nosso inconsciente e a amplitude de conhecimento que temos de mundo.
O avanço da tecnologia parece fornecer dados que amplificam cada dia mais nossa visão da realidade. Aprendemos a tocar ou pelo menos "ver" a realidade que seja palpável e finita. Principalmente fragmentada como se vê pelos topos das ilhas". E o que não conhecemos porque não vemos ou tocamos? Prova disso é esse trabalho captado por sensor que nos permite visualizar o que nossos olhos não enxergam, mas existe e está lá. A questão é que se nos colocarmos no lugar das "ilhas", cada vez que quisermos amplificar mais nosso contato com a realidade teremos mais terreno desconhecido a desbravar. Essa inquietude é revelada pela cor aparentemente negra da água. Nesse trabalho, reúno as imagens conforme vou percebendo no escuro o desconhecido. Formo como que uma cartografia espacial psíquica do que esse entrelaçamento me sugere. Toco então as células esvaziadas, encontro tecidos maleáveis, órgãos em latência. Tudo me afeta e eu afeto aquelas imagens que percebidas pela minha consciência não são mais o que elas representavam ou queriam ser. São o que eu desejo que elas sejam. Serão o que todos puderem desejar que elas sejam.
