2019
"Espacialidades líquidas" é constituída por uma série de imagens metafóricas sobre as quais repousam as críticas que a artista faz quanto à qualidade dos relacionamentos humanos na vida cotidiana das cidades e à sua forma deliberada de consumo imediato. Entende existir uma tensão entre o instinto do modo de viver humano (grupal) e o engendrado a partir de construções "urbanas" programadas pelos próprio homem: sejam físicas (na arquitetura) sejam virtuais (em áreas de tecnologia, comerciais, etc) que implicam isolamento. Repousa seu olhar nessa lacuna a partir da qual propõe uma reflexão atual: em que mundo ou cidade queremos viver? Podemos ou temos o poder re-escolher a realidade em que queremos estar incluídos? A consciência de si mesmo se fortalece com a assimilação e com a elaboração das experiências vividas, podendo deste modo partir sempre para o novo.
O processo e a vivência da construção paulatina da obra, que ainda não terminou, foram palco de inúmeras sincronicidades significativas para seu enriquecimento e aprofundamento.
Especialmente, a pesquisa sobre conceitos da estética japonesa, com enfoque no MA e sua relação com a dualidade em questão - estruturas da cidade X valores e demandas daqueles que nela vivem. Tudo isso aguçado pelo gestual de "consumo" imediato das relações então surgidas ou de seus resultados. Foi o conceito abrangente do Ma, estética relacionada à arte e à vida e que valoriza a tensão e vivência do "entre" que chegou para abraçar e dar espinha dorsal `a essa obra. Daí sugerir-se um paralelo poético entre esta obra e a percepção que temos de nós mesmos em interação com o mundo que nos rodeia. Basicamente o Ma considera a existência de um lugar ou espaço, vazio ou em branco, com o caráter da possibilidade, da ambivalência ou da simples potencialidade de algo poder acontecer ou de simplesmente não. E, consequentemente, de gerar algo novo. Condição de vivência dessa experiência é compreender que esses espaços são determinantes na construção do pensamento. Localizar-se precisamente nessa lacuna, no espaço latente criado por essa tensão, como ponto de observação de ambos os lados, sem pré-julgamentos, foi a intenção original da artista, para aguardar que suas percepções, à medida que e quando fossem geradas, pudessem lhe conduzir à algum outro lugar de novo conhecimento. A obra consiste em imagens únicas capturadas numa mínima fração de tempo em que a luz incide sobre parte de uma esfera de água em estado sólida, transparente, trespassada por um gesto de perfuração. As possibilidades que vão surgindo da interação das variantes (espaço, luz, tempo e ação) em questão, questionam a existência de um olhar compreensivo sobre a qualidade das relações que vão se travando e enrijecendo de forma inconsciente no nosso cotidiano.
Na obra, o espaço perfurado cria uma rede de interações internas de linhas ou imagens tanto quanto deixa espaços totalmente brancos. Os espaços cheios se relacionam com estes brancos de formas diferentes a cada vez que a luz é projetada. Como se os estímulos de combinações fossem infinitos. Ao mesmo tempo essa essa comunicação também é afetada e transformada em função da duração do tempo do olhar já que o elemento água volta lenta mas irremediavelmente ao seu estado líquido. Ao lançar mão de trabalhar a imaterialidade destas reflexões baseadas na transmutação da matéria cria-se infinitas possibilidades de administração do dilema enfocado nessa obra. Essas noções tempo-espaciais, a artista propositalmente atrelou-as à do circulo, como simbolo universal, porém com 2 significações encontradas também em várias culturas orientais: expressão do momento. Momento em que a mente está livre para o espirito acreditar. E a não perfeição do círculo de forma a sempre buscarmos a iluminação para encontrar a, cada gesto, a melhor solução. O fato de a esfera ser de água implica no seu derretimento de forma não homogênea e não uniforme o que confirma seu propósito de servir como base sincera do trabalho. A artista coloca o vidro em bolha expandida sobre a imagem na tentativa de lhe conferir sentido aproximado ao da esfera viva no momento das vivências artísticas. Tenta transpor ao observador algo da sensação original de "espreita" nos momentos de captura das imagens. A interatividade do observador consiste tanto na percepção intelectual dos fenómenos naturais associados à finalidade artística em questão como na escolha física dos inúmeros pontos de vista ao redor da bolha de vidro por seu deslocamento corporal. A relação corpo espaço tacto tempo é fundamental para todo tipo de descoberta sensível possibilitada pela obra. Será o observador que decidirá a sua própria imagem na vivência desse contexto integral.
AGREGAR: física quântica O modo como observamos o mundo= escolha da realidade na qual desejamos estar inseridos.
De acordo com a física quântica, todas as nossas possibilidades estão acontecendo simultaneamente, porém quando focamos a nossa atenção para a realidade, apenas uma possibilidade é concebida como “real”. O problema é que, devido às nossas dependências emocionais, acabamos repetindo padrões indesejados, achando que, apesar das infinitas possibilidades de escolhas que temos, não possuímos a capacidade de rumar para o diferente. E - como consequência - passamos a nos repetir indefinidamente.
A questão é que as nossas identidades estão insistentemente engajadas neste circuito. As respostas bioquímicas em nosso corpo que têm a ver com a alegria, o prazer ou a dor, seguem sempre o mesmo caminho emocional e acabamos por não conceber, por mais que possamos desejar, a ideia de que podemos ter outros coloridos com relação à alegria ou a situações totalmente novas. Na grande maioria das vezes sequer concebemos a hipótese de que atuamos em meio aos nossos vícios e padrões emocionais repetitivos. E mesmo se já estivermos aceitando estas percepções, talvez devido às nossas crenças (e dependências emocionais?), ainda custamos a conceber que temos o poder para criar algo de efetivamente novo em nossas vidas.
Se desejarmos algo intensamente, a ponto de perdermos a referência de quem somos - da nossa identidade conhecida - e nos tornarmos o desejo em si, o novo pode emergir em situações totalmente inusitadas. A fixidez da vida repetitiva poderá se transformar naquilo que a consciência é em essência: Mutante.
Mutante porque cria constantemente. (Atente que você pode criar permanentemente a mesma coisa, mudando apenas o cenário de vida e pior, às vezes nem isso).
A consciência de si mesmo se fortalece com a assimilação e com a elaboração das experiências vividas, podendo deste modo partir sempre para o novo.
Encontre um espaço dentro de si mesmo e questione sobre a sua vida. Observe atentamente o que deseja mudar e faça um movimento.
Abra espaço dentro de si e visualize a situação ideal para você. Conceba que essa criação de realidade é totalmente passível de ocorrer. Pesquise seus ambientes emocionais e deflagre os impedidores para você ser feliz.